Hans Dieter Temp, idealizador da ONG Cidades sem Fome, conta sobre os desafios e as grandes transformações que envolvem a criação de uma horta comunitária. As 21 hortas do projeto rendem mais de 500 reais por mês para 110 pessoas carentes e beneficiam até 660 pessoas, em São Paulo. Agora, o desafio é expandir as plantações para outras regiões pelo Brasil
No país do “em se plantando tudo dá”, e com a ajuda da tecnologia, todo solo pode ser cultivado. Isso é o que diz a experiência do gaúcho que mora em São Paulo, Hans Dieter Temp.
No final da década de 90, quando ia visitar sua futura esposa, que morava na Zona Leste da cidade, com os pais, Hans se indignava com o grande número de lotes de terra privados e públicos ociosos que encontrava em seu caminho, muitas vezes ocupados pelo lixo. “Essa região é muito empobrecida, tida como um local dormitório: a maioria dos moradores não apenas trabalha fora, como também gasta seu dinheiro fora dali”, observa Hans.
Mas em vez de por a culpa nas autoridades públicas ou na população ou reclamar para ninguém, ele decidiu que gostaria de tentar transformar a paisagem com que se deparava, preservar o ambiente local e trazer melhorias para a comunidade. Tudo isso com uma saída simples: plantar hortas nos locais abandonados.
O que começou como um hobby se transformou em missão de vida. Nos primeiros anos, Hans tirava do próprio bolso o dinheiro para a compra e o plantio de sementes. Em uma cidade tipicamente voltada para a indústria e a prestação de serviços, o conceito de “agricultura metropolitana” – que já fazia sucesso no Canadá e em países da Europa – ainda soava estranho para o paulistano. Por isso, a princípio, não foi nada fácil convencer as autoridades públicas e mesmo os moradores locais sobre o valor das hortas em termos de nutrição, saúde e geração de renda extra para as pessoas carentes. Até hoje, no início, muitas hortas sofrem depredação.
No entanto, com o tempo, Hans, que, além da formação em Administração de Empresas, também é técnico em Agropecuária e Políticas Ambientais pela Universidade de Tübingen, na Alemanha, foi ficando conhecido por seu trabalho e acabou sendo convidado, em 2001, para desenvolver e coordenar o Programa de Agricultura Urbana da Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo, que organizava o plantio das hortas. No início de 2004, ele conseguiu aprovar, na Câmara Municipal, a Lei de Agricultura Urbana, que regulamentava as iniciativas agrícolas nas cidades.
Atualmente, existem 21 núcleos de hortas comunitárias no município de São Paulo que geram renda para 110 pessoas e beneficiam cerca de 660 pessoas diretamente. Normalmente, em uma área de 250 m², cada trabalhador tira, pelo menos, um salário mínimo por mês. “A maioria das pessoas, que antes recebia de R$60 a R$80 mensais, hoje ganha mais de R$500”, diz Hans. O próximo passo é fazer o projeto crescer em escala, indo além dos limites da Zona Leste e mesmo da cidade de São Paulo. O grande desafio é fazer com que as hortas se mantenham integralmente sozinhas, para que os recursos investidos possam ser destinados a novos
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